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Mostrando postagens de julho, 2018

Pajem

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- A cabeça numa bandeja de prata Eu estava lá Eu vi o sagrado se tornar profano Eu vi a ruína de tudo o que era real Eu vi a mancha de batom se confundir com a mancha de sangue Eu ouvi o bater de asas aplaudindo a profecia Eu ouvi o rei gritar derrotado. Uma cabeça numa bandeja de prata. A princesa parece ter entrado num ciclone E no coração do ciclone uma cabeça A cada véu que tocava o chão, Uma parte do mundo ao meu redor ruía. Eu estava em ruínas mas o meu coração batia acelerado Eu nunca me senti tão vivo em pleno caos. Eu o vi. Eu o ouvi. Ele ainda murmurava o nome da princesa Mas eu respirei aliviado por vê-lo novamente. As águas do rio que hoje à tarde eram cristalinas tornaram-se negras. As amendoeiras secaram e seus frutos caíram podres no chão. A lua ficou estranha e vermelha como o sangue. As espadas dos soldados anunciaram o fim. Eu rezei agradecido ao anjo negro que aparecera nas sombras Pois meu desejo se cumpriu sem nenhuma culpa.

O Lobo e A Flor

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Inspirado pelo que testemunhei e, na ausência de algum outro escrito que conte uma história exatamente igual a essa, decidi escrever este conto, tão real quanto me é possível dizer. Sei que não são poucas as histórias de lobos e flores por aí, mas essa é diferente. Tão diferente quanto seus protagonistas e seus detalhes. Certo dia um lobo perdeu-se de sua matilha. Ele não era um lobo comum. Era o mais fraco e o mais desajeitado. Sua forma de pensar não condizia com a forma como os lobos pensam. Seus hábitos eram diferentes dos outros e, por isso, ele sempre era esquecido ou menosprezado pelos seus companheiros. Sua vida limitava-se em tentar encaixar-se naquele grupo ao qual ele pertencia e correr atrás deles quando eles o deixavam para trás. Até que um dia, cansado, ele adormeceu à beira de um rio e, ao abrir os olhos, encontrou-se sozinho. Em seu íntimo, ele sempre soube que essa palavra o definia – sozinho - mas ele nunca quis acreditar; pois amava e confiava nos demais lobos (