Postagens

Mostrando postagens de 2018

Folhas Secas

Imagem
19 de dezembro de 2016, São Caetano do Sul -SP. Caro amigo, Eu gosto de estar entre folhas secas. Talvez por que me sinto como elas, às vezes. Quase sempre, para ser exato. Na verdade, acho que as folhas secas são uma representação da vida (e das coisas da vida). Hoje elas são secas, descoloridas, apáticas, tortas... Mas nem sempre foram assim. Um dia elas já foram verdes, saudáveis e bonitas... Mas o tempo veio, as desgastou e as jogou fora. Elas já estiveram no topo da árvore e hoje estão no chão. Elas já resistiram ao vento e hoje são levadas por ele. Elas caíram sozinhas, mas é engraçado como elas se amontoam em alguns espaços. É como se o estado deplorável delas causasse empatia uma pela outra e elas se unissem como forma de se sentirem parte uma da outra de novo. Como se elas buscassem juntas uma nova sustentação. O que também acho interessante dizer sobre elas é que elas morrem para dar lugar a outras folhas novas. É um sacrifício por renovação. Eu já caí do meu gal

O Par Perdido

Imagem
Eu perdi o par do meu sapato. Sabe quando você espera o ano todo por aquele momento de abrir os presentes do seu aniversário e quando esse momento chega... Você descobre que lhe deram aquele par de sapatos que eram do jeito como você queria? Aqueles sapatos que te atraíram desde que você os viu na vitrine e decidiu prová-los. Percebeu então que, além de atraentes, os sapatos também serviam no seu pé. Mais do que isso: eram do tamanho ideal e ainda por cima confortáveis de se usar. No começo você os usava para tudo: para ir à faculdade, para ir para a balada dançar, para fazer compras, assistir um filme no cinema... Até em casa você não conseguia tirá-los dos seus pés. Foi exatamente assim que tudo começou com o sapato que perdi. Mas então vieram as consequências de seu uso contínuo: os sapatos se desgastaram. A sola já estava roída, havia buracos onde eles não deveriam estar e até os nós firmes dos cadarços que sempre foram como braços que abraçavam os meus pés se afrouxaram

Mistério

Imagem
Mesmo com o céu nublado e cinza, eu senti que deveria ir à praia. Chegando lá, senti-me um pouco atordoado com tamanha vastidão. Olhei fixamente para o horizonte e tentei achar o ponto de união entre o céu e o mar – pois me incomoda pensar que dois infinitos jamais se tocam. É preciso ter um ponto de convergência. É como o passado e o futuro, que se tocam sutilmente no presente. Ou como a vida e a morte, que possuem em comum o último suspiro. Caminhei à beira-mar coletando conchas e pensando no quanto tudo isso é finito. A vida é finita, a matéria é finita, as relações são finitas... Talvez até o tempo e o universo sejam finitos e nós só não saibamos disso ainda por que o fim de tudo está além da nossa compreensão. Somos apenas pequenos grãos de toda essa extensão de areia. Mas e se existisse algo além do fim? E se alguém fosse capaz de superar o fim do tempo, o fim da vida, o fim da própria matéria e do universo? E se nós fossemos como conchas que permanecem inteiras mesmo quan

Naufrágio

Imagem
Eu gostava de você molhado. Da chuva que caía lá fora enquanto eu te esperava ou que nos acompanhava no longo trajeto até a estação. Até de você úmido de suor eu costumava gostar Eu amava abraçar você e me sentir mergulhado em seus braços mas agora você é seco. Quando cai a chuva, eu não te espero mais pois sei que a espera será em vão Quando você passa por mim e não me abraça mais, eu sinto meu peito rachar de secura. A única coisa na qual eu afundo agora é na minha própria solidão, na minha própria culpa. Nas minhas próprias lágrimas. Quando você chegava molhado e eu te oferecia o meu casaco, eu estava na verdade te oferecendo parte de mim, por que eu queria fazer parte de você e adorava ter você como parte do que eu era. Ah! O barulho da chuva me toca como o gosto da sua ausência. Um gosto amargo e seco de uma vida sem cor. Eu me entrego, às vezes, eu até danço na chuva! Eu queria que cada gota que cai do céu fosse um beijo teu para que eu m

O Menino da Torre e o Menino da Lua

Imagem
                Em um lugar muito distante vivia um menino que gostava de ser chamado de Menino da Torre (isso por que ele vivia isolado em uma torre muito, muito alta, feita de pedras e ferro, com seu cavalo - e único companheiro). A torre ficava em uma clareira em meio a uma floresta densa e às margens de um rio cristalino. Este rapaz era fascinado pela lua e a encarava todas as noites através da única janela de sua torre. Por algumas vezes imaginava que poderia chegar até ela se crescesse só alguns centímetros mais, ou se seu cavalo fosse mágico – e ele realmente queria que isso fosse possível. Ele imaginava que estranhos mistérios a lua escondia. Imaginava também como seria sentir  o cheiro que ela tem, a textura do solo e como seria ver a Terra de lá.                 Devo, talvez, interromper a história para contar como o rapaz foi parar na torre e por que ele vive dentro dela. Quando uma guerra tomou conta do país em que ele morava, ele foi levado até a torre com o objetiv

22-06-2016

Imagem
It's cold outside There's no shiny moon to bright It means that night has no owner So we have to go out and take the crown Looking through the window the night sleeps If we scream, maybe nobody will listen. So we are free and mute and invisible I know how lonely it seems And you feel loneliness deep inside your heart But don't worry, it's just a reminder that you are human And you can bleed and cry But still can dance and sing tonight Because you're alive! Angel Why you look so sad today? Let my hands warm up yours Lie on my chest and hear our hearts beating Like drums of life playing a Rock'n Roll. If I could, I would go to the heavens to steal a piece of happiness Then I'd fall back just to bring it to you I've almost gone I could feel my life going through my breath But you took my hands and kissed them. It made me want to stay. I know we're struggling And each day is a fight for more life But you're not alone

Tempo

Imagem
O tempo é maravilhoso Eu olho para trás E vejo memórias Vejo flashes do tempo que já foi. O tempo é assustador. Eu olho para frente E vejo planos Vejo flashes do tempo que ainda virá. O tempo é atemporal Eu olho para o espelho E vejo os mesmos flashes Passado e futuro combinados Como peças de um quebra-cabeças Ou como pixels em uma tela de celular. Eles formam a imagem clara e precisa Do tempo presente.

Macieira

Imagem
No vai e vem do cotidiano a gente não para pra ver o que tem em volta, exceto quando o “em volta” para a gente. Assim como a maçã interrompeu Newton enquanto ele estudava tranquilamente embaixo de uma macieira, certo dia eu estava entre os vultos e corpos sem rostos de São Paulo quando vi uma Macieira dando frutos em meio ao concreto sólido e frio. Fazia tempo que eu não via uma maçã a não ser em um notebook ou smartphone, mas ali estava - bem em frente aos meus olhos - não apenas uma maçã, mas toda uma macieira frondosa e fértil esperando que alguém a notasse e usufruísse de seus frutos. Há quanto tempo esta árvore estava ali e ninguém a viu? Não importava para qual sentido você estava indo ou voltando, aquela estranha árvore parecia estar sempre na contramão, carregada de frutos vermelhos. Tão vermelhos que pareciam até vivos, como órgãos de um corpo em meio às máquinas. Minha fome e o encanto da árvore me levaram a pedir-lhe uma maçã. - Conte-me uma história e eu lhe darei

Orquídea

Imagem
Era uma vez uma jovem florista que cuidava de lindas flores em um pequeno jardim familiar. Ela era meiga e simpática (assim como suas flores) e tinha uma orquídea como sua favorita, seu xodó. A jovem e sua família não eram nobres, mas conseguiam viver com certa tranquilidade graças ao trabalho árduo dos pais e o pouco dinheiro que ela conseguia vendendo alguns arranjos de seu jardim. Ela também adorava estudar e ler todos os tipos de livros – os quais ela chamava de “companheiros de jornada”. A moça não era ingênua, mas tinha um coração muito bondoso e generoso. Era conhecida por todo o reino como uma alma caridosa e amiga – o que comumente atraía os olhares de seres mal-intencionados, com os quais ela conseguia lidar de forma pacífica e amigável. Coragem e dignidade eram qualidades que ela sem dúvida herdara de sua família. E todos os dias ela acordava feliz e cantando para a vida, cuidando de sua flor predileta com muito esmero e do seu jardim com muito amor. Mas um dia o rein

Corpo Nu

Imagem
É um corpo limpo Um corpo puro Despido, entregue, bonito Que sorri, que chora, que sente. Que é novo, que é velho, que é seu. Um corpo inocente Sem ódio, sem malícia, sem mistério, sem barreiras, com fulgor. Com história, com vida, com ardor, com cores, sem pudor. Com marcas Sem máscaras. Um corpo nu não é (necessariamente) um convite. Não é atentado, nem transgressão Mas pode ser protesto. Não é pecado, nem errado. Mas pode ser o que quiser. É natural. É vida. Origem. Original. Um corpo nu é só, e somente só, um corpo nu.

Sede

Imagem
Era uma tarde quente de verão quando Ele e Ela conversavam. Ele possuía uma garrafa cheia de água fresca, fechada. Ambos conversavam como se tivessem se conhecido há anos, mas na verdade se conheciam há apenas algumas semanas. Todos os dias conversavam, ainda que sobre nada de relevante como o que estavam fazendo no momento, como tinha sido o dia de cada um, se iria ou não chover ou fazer calor... - Nossa! Incrível como a gente combina, né? – disse Ela, empolgada – Nunca imaginei que um dia encontraria alguém assim como você. Nós gostamos das mesmas coisas, pensamos de forma igual... Falamos tanto que até fiquei com sede! - Verdade, né? – respondeu Ele, também empolgado – Gosto de conversar com você. Os dois se entreolharam. Silêncio. Ela quebra o silêncio fitando o horizonte: - Tá calor hoje, né? E me parece que no calor ficamos duplamente cansados. Se bobear sinto sede o dia inteiro. - Tem razão. Por isso é importante a gente se manter sempre hidratado... – ele abre sua