Pajem
- A cabeça numa bandeja de prata
Eu estava lá
Eu vi o sagrado se tornar profano
Eu vi a ruína de tudo o que era real
Eu vi a mancha de batom se confundir com a mancha de sangue
Eu ouvi o bater de asas aplaudindo a profecia
Eu ouvi o rei gritar derrotado.
Uma cabeça numa bandeja de prata.
A princesa parece ter entrado num ciclone
E no coração do ciclone uma cabeça
A cada véu que tocava o chão,
Uma parte do mundo ao meu redor ruía.
Eu estava em ruínas mas o meu coração batia acelerado
Eu nunca me senti tão vivo em pleno caos.
Eu o vi. Eu o ouvi.
Ele ainda murmurava o nome da princesa
Mas eu respirei aliviado por vê-lo novamente.
As águas do rio que hoje à tarde eram cristalinas tornaram-se negras.
As amendoeiras secaram e seus frutos caíram podres no chão.
A lua ficou estranha e vermelha como o sangue.
As espadas dos soldados anunciaram o fim.
Eu rezei agradecido ao anjo negro que aparecera nas sombras
Pois meu desejo se cumpriu sem nenhuma culpa.
O fim chegou e nele eu reencontrarei você sereno como a lua.
Todos pagamos pelos nossos pecados, enfim.
A lua não mais parece uma mulher morta.
Ela agora é a mulher e a morte
E sua mão cobre o corpo com o sudário.
O reino silencia.
(Tributo a "Salomé" de Oscar Wilde)
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