É Uma Questão de Vibração
Era uma vez um rapaz na Terra dos Vibrantes que vibrava mais do que o comum. Para onde ele ia, todos o olhavam torto por conta das suas vibrações excessivas. Afinal, elas eram o reflexo de suas emoções intensas, impulsivas e incontroláveis. Era muito chato o barulho que tantas vibrações emitiam. Por que alguém socializaria com alguém tão inconstante e estranho? Alguns até acreditavam que ele era capaz de criar um terremoto caso sentisse uma raiva muito profunda.
Ele vivia repetindo para si mesmo (na tentativa de convencer-se) que ninguém o aceitaria daquela forma. Ele tentou controlar suas vibrações para poder fazer amigos e até, quem sabe, viver um amor, mas isso quase o partiu ao meio.
Eis que ele conheceu uma moça tímida e muito meiga que, diferente de todas as outras e principalmente dele, não produzia vibração alguma. Ela era pessimista, racional, perfeccionista e adorava passar as tardes observando as pessoas e tirando fotos de coisas comuns. Ou melhor, que pareciam comuns. Era uma moça que praticamente não falava. Apesar das disparidades entre um e outro, a amizade entre eles nasceu e cresceu cada dia mais.
- Por que tantas fotos de nada? Há tantas coisas belas para se fotografar e você perde tempo com o que vemos todos os dias? Prédios, carros estacionados, placas... Até o chão você fotografa! – Exclamou o rapaz, em tom de brincadeira.
- Esse é o seu ponto de vista por que vibrar pra você é normal. Você vibra como o mundo todo e eu não. Pra mim, o mundo todo é poesia. O cotidiano é poesia. Você não vê a vibração com a mesma beleza que eu. Até um céu nublado eternizado sem vibração numa foto estática é lindo pra mim. – Respondeu a moça, um pouco ofendida.
E não era só sobre isso que eles discordavam, não. Eram várias as discussões em que não se chegava a conclusão nenhuma e não era raro a moça deixar o rapaz falando sozinho para não ter que continuar nos assuntos que não estavam sendo-lhe agradáveis.
Apesar de toda a discórdia por que um não conseguia entender o ponto de vista do outro nunca, eles tinham algo em comum: o fato de não serem comuns. Quando não estavam discutindo as ideologias e visões divergentes, estavam concordando com o quanto aprenderam a se aceitar como são ou gargalhando ao lembrar o quanto sofriam por serem tão diferentes dos demais e agora não se sentem tão sozinhos no mundo de gente igual, vibrando sempre igual.
Foi em um desses momentos de cumplicidade que aconteceu um beijo. Um beijo de um ímpeto impulsivo de ambas as partes. E naquele momento eles vibraram na mesma frequência. Ela trouxe paz para seu peito inquieto e ele a fez vibrar sentindo fortes emoções.
Eles continuam sendo opostos enquanto indivíduos. E continuam discutindo muito, concordando em praticamente nada. Mas quando juntos, formam uma unidade uníssona. Se estiver por perto e tiver o ouvido aguçado, poderá dançar ao som da sinfonia que é emitida pelo encontro dos lábios de um com os lábios do outro. É música para fazer qualquer coração vibrar.
Comentários
Postar um comentário