Sobre o Amor e Quitutes Frescos


É sexta-feira. Você teve um dia exaustivo no trabalho e está voltando para casa com muita fome, torcendo para que tenha algo de preparo fácil para comer. Não vê a hora de chegar em casa e tirar o salto alto que usou o dia todo. Você abre a porta da sua casa e, ao acender a luz, um grito ecoa:
- SURPRESAAA!!!
Seus amigos mais próximos, seus familiares e até seu “flerte” estão presentes. Curiosa, você pergunta para sua melhor amiga quem foi que organizou a celebração e ela diz que foi ele, seu grande amigo que se aproxima de você com um sorriso no rosto e uma bandeja de quitutes quentes e cheirosos nas mãos. Ele aponta uma mesa próxima a você e diz:
- Você deve estar cansada. Sente-se! Hoje é o seu dia!
Você se senta, ele coloca os quitutes em um prato para você. Estão frescos e deliciosos. O rapaz com quem você tem saído senta-se com você e o seu amigo os deixa a sós. Você olha para o homem na sua frente e percebe como é bom tê-lo no dia do seu aniversário. Ele serve os quitutes na sua boca, lhe chamando de princesa e dizendo coisas lindas sobre o seu cabelo, o seu sorriso, a sua risada e o seu olhar. Antes que os quitutes acabem, seu amigo já encheu o prato com novos quitutes frescos. Você e o homem à sua frente continuam flertando. Ele segura sua mão e a acaricia, perguntando como foi o seu dia. Você fala, no intervalo entre um saboroso quitute e outro. Ele ri, olha nos seus olhos atentamente e o seu coração bate em paz. Bate por ele. Mais uma vez seu amigo lhe serve quitutes frescos e você o agradece. Mas agora seu interesse pelo homem à sua frente é muito maior do que sua fome. Vocês se divertem, se distraem e até esquecem a festa ao seu redor. Esquecem dos amigos bêbados que vieram lhe parabenizar, esquecem da família, dos quitutes... Por um momento só o que existe são vocês dois. O amigo, vindo com mais uma bandeja de quitutes quentes, percebe que os anteriores permanecem na sua mesa, frios, inteiros e intocados. Ele para de servir e começa a participar da festa. A festa que para você não existe mais. Não naquele instante.
Então toca a música que marcou o dia em que você e o rapaz se conheceram. A música foi propositalmente colocada no CD da festa pelo seu amigo, aquele que organizou a festa e lhe serviu os quitutes. Ele sabia como seria importante para você. O rapaz te chama para dançar e você vai... Ele te conduz, te seduz e te conquista cada vez mais. Seu coração bate acelerado. Bate cada vez mais por ele. Vocês dançam por um bom tempo, até que o cansaço volta e vocês voltam para a mesa. A mesa em que vocês estavam, com as taças de vinho vazias e os quitutes frios, abandonados. A fome também volta e você leva um dos quitutes à boca. Mastiga-o, mas ele não tem mais o mesmo sabor de outrora. O amigo vem até sua mesa, dizendo que esquentará mais, mas você recusa.
- Não tem problema. Estes daqui estão bons ainda, você merece curtir essa festa um pouco também!
O amigo, com um sorriso torto, se afasta e se mistura com os outros da festa. Você se volta para o rapaz.
A festa se aproxima do fim. Seu amigo chama a atenção de todos, trazendo um bolo de aspecto delicioso. É um bolo com o sabor que você adora, escolhido a dedo por ele. Todos cantam os “parabéns” e você faz um breve discurso antes de entregar o primeiro pedaço de bolo. Você lembra de como o dia foi exaustivo e dá o pedaço para o rapaz que, claramente, é o motivo do seu sorriso nesse fim de noite de sexta-feira, o rapaz que está fazendo o seu coração bater como nunca antes: o seu flerte. Todos aplaudem: a família, os amigos bêbados e ele, o amigo dos quitutes frescos, do bolo escolhido a dedo e da música marcante. Ele aplaude pelo sorriso estampado no seu rosto por que era isso o que ele queria ver em você depois do dia exaustivo que ele sabe que você teve no trabalho, mesmo não estando naquela mesa com você enquanto você falava sobre tudo o que passou durante o dia. O bolo é servido, alguns doces também e logo todos começam a ir embora. O amigo, antes de ir embora, avisa:
- Deixei uns quitutes que sobraram dentro da geladeira. Qualquer coisa é só esquentar no microondas, ok?
Você acena que sim com a cabeça, mas só consegue pensar naquele que ainda não foi embora: o rapaz que faz o seu coração bater mais forte. Quando finalmente ficam a sós, você finalmente tira o salto, a roupa e tem uma daquelas noites de amor que você acreditava que só existiam em romances do cinema e da TV. Você acorda no dia seguinte radiante, mas percebe algo de estranho no ar, com seu parceiro. Ele acordou antes que você e fala no celular. Ao desligar, vira-se para você e diz, em voz calma:
- Eu já vou indo.
Você estranha, mas não se opõe. Os dois se vestem. Ele a beija na bochecha antes de sair de sua casa. Você se senta no sofá e assiste TV enquanto come alguns dos doces que sobraram da festa, como café-da-manhã.
A manhã inteira sem nenhum sinal dele. Quando você finalmente toma coragem para dizer um olá, ele diz, por mensagem:
“Me desculpe, mas eu acho que não podemos continuar nos encontrando dessa forma. Eu não estou preparado para um relacionamento sério e não quero te machucar. Acho melhor terminarmos agora. Fique bem”.
“Tudo bem. Tem quitutes na geladeira, eu ficarei bem” – você responde.
Com os olhos marejados, você vai até a geladeira, pega os quitutes da festa e os esquenta no microondas, lembrando de como eles eram gostosos. Você morde o primeiro e percebe que ele não tem mais o sabor de quitute. O mesmo acontece com o segundo, e o terceiro, e o quarto... Apesar de requentado, o quitute ainda parece frio. Tem aspecto e gosto de frio, mesmo estando quente. O celular mostra uma nova notificação de mensagem, você abre a mensagem e lê:
“Você com certeza deve ter esquecido, mas eu deixei alguns quitutes pra você na geladeira. E alguns doces também. Espero que tenha gostado da festa! Beijo e bom final de semana!”.

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